Artesanato Kaigang e o respeito à natureza

17/05/2024 09:12

Toda quarta-feira, na feirinha, o artesão e cacique Sadraque, que também é considerado guardião da sabedoria tradicional e Ancestral do seu povo Kaigang, dedica um momento para encontrar a comunidade da UFSC e compartilhar sua cultura e conhecimento.

Nesta quarta, o coordenador do projeto UFSC com as Aldeias, professor Daniel Ricardo Castelan, visitou o cacique para apresentá-lo ao seu amigo Gueibi, que iniciou sua caminhada de aprender com os indígenas. Lá encontraram Laura Paritintim, grande liderança estudantil indígena, que se tornou uma amiga do coordenador e do projeto.

Cacique Sadraque recebe o professor Gueibi

Na visita, o cacique Sadraque explicou que o artesanato tem um significado cultural muito profundo: “o artesanato ensina que é possível receber da natureza, da mãe-terra e do pai deus, o presente do alimento e da vida, sem precisar matá-la pra isso”.

O cacique contou uma história de como seu povo Kaigang faz o artesanato: “Antes de ir colher bambu, a gente pede licença, porque é a terra que oferece o alimento, o sustento, a vida. Como uma mãe nos oferece o leite, a terra nos oferece o bambu. Com a licença da mãe terra e do pai, nosso deus, nós vamos colher. E assim em retribuição cuidamos do bambu, fertilizamos, porque é um presente e um cuidado com a gente, nos dá vida. Então nós fazemos o manejo da árvore quando colhemos e com isso ela cresce e nos oferece seus frutos”.

Com as palavras do cacique Sadraque, os visitantes compreenderam que o artesanato mantém vivo no povo indígena um respeito muito grande pela natureza, que a preserva. Sadraque contou que a semente de Pau Brasil, que ele usa em seus colares, é colhida de uma árvore no bairro do Estreito, que ele conheceu aos 9 anos de idade, por intermédio da sua vó. Hoje ela tem 107 anos, mora no território indígena em Xanxerê. A árvore traz a lembrança da vó, então é uma amiga. Com isso, Sadraque ensina que não é preciso matar a natureza, fabricar tanto objeto, porque a natureza é um presente de quem a criou.

Gueibi saiu encantado pelo encontro. Mostrava alegria em seu rosto. Levou um cesto para presentear sua mãe. O cacique explicou o significado do desenho no cesto: “Um dos símbolos, o Kamé, representa o sol. O outro, Kairu, representa a lua.” Sadraque explicou que no seu povo, cada família tem um símbolo – alguns são Kamé, outros são Kairu. Os casamentos nunca acontecem entre dois Kamés ou dois Kairus. O coordenador do projeto UFSC com as Aldeias, professor Daniel, compartilhou as reflexões que a conversa despertou: “se o céu tivesse dois sol, não ia ter sombra pra descansar. Sol reveza com a lua. Juntar Kamé com Kairu une as famílias, festeja a união escrevendo seus nomes no artesanato, e assim costura a paz entre as famílias e no povo”. No cesto que Gueibi comprou para sua mãe, Kamé e Kairu estão juntos. “É um cesto de amor”, riu Sadraque.

Compartilhamos aqui o vídeo com ensinamentos do cacique Sadraque

 

Cestos que carregam as histórias Kaigang

 


Sobre o projeto

23/04/2024 17:27

O que é?

O “UFSC com as Aldeias” promove e articula iniciativas conjuntas entre os povos indígenas e a Universidade, em áreas de seu interesse, fortalecendo a autonomia desses povos e contribuindo à preservação de seu modo de vida, em respeito a seus valores e sua cultura.

O projeto é uma ação institucional da Universidade Federal de Santa Catarina, em parceria com instituições governamentais e não governamentais, conduzida por estudantes indígenas, professores e técnicos da Universidade.

Como atuamos?

1. Construção coletiva, com protagonismo indígena: as iniciativas são construídas coletivamente, tendo lideranças e estudantes indígenas como protagonistas, junto com professores e técnicos da Universidade

2. Participação indígena: As ações de extensão devem ser integradas majoritariamente por estudantes indígenas, de forma a verem ‘sentido’ na formação construída na Universidade

3. Autonomia e autodeterminação: as ações devem promover a autonomia e autodeterminação dos povos indígenas, respeitando seus valores, inclusive o de que não têm uma relação de propriedade privada da terra, mas de pertencimento, e não estão acostumados à exploração do trabalho humano.

Amistoso de futebol reúne jovens Xokleng com a comunidade da UFSC

23/04/2024 17:02

Na semana de comemoração dos povos indígenas, professores, estudantes e ex-estudantes da UFSC visitaram o povo Xokleng e participaram de partida amistosa de futebol com indígenas da aldeia Coqueiro.

O evento foi proposto pelo professor do departamento de Economia da UFSC, Gueibi Peres de Souza, que é também atleta do clube de futebol Guará, que há mais de vinte anos reúne professores, estudantes e amigos da UFSC para promover a integração através do esporte. A partida aconteceu no dia 20 de abril de 2024, na aldeia Coqueiro, na Terra Indígena Laklãnõ-Xokleng.

A ideia de um amistoso foi realizada com o apoio do projeto UFSC com as Aldeias, do qual participa o estudante Djeimis Leoni Vomblé Patté Camlem, do povo Xokleng, e o professor Daniel Ricardo Castelan, que providenciaram a mediação entre as equipes de futebol e as lideranças da comunidade. Djeimis é um dos craques do povo Xokleng, e atualmente estuda Educação no Campo na UFSC. Junto com a estudante Suzani Gervásio, do povo Paritintim, e também Renan Zokin Morlo, Xokleng, os integrantes do projeto UFSC com as Aldeias mediaram o diálogo entre a comunidade e os atletas não-indígenas.

A viagem também contou com a presença da professora e diretora do CCJ Carolina Medeiros Bahia, diretora do Centro de Ciências Jurídicas da UFSC e companheira de um dos atletas, o advogado e mestre em direito Fábio Maia. Também integraram a equipe o professor em linguística, Heronides Moura, que já trabalhou com povos indígenas na Amazônia, e também do egresso da UFSC Luan Fisher, além de familiares dos atletas.

Na aldeia, os atletas foram recebidos pelo cacique da Aldeia Coqueiros, João Moklin Moconã. O cacique os convidou a participar das festividades comemorativas da semana dos povos indígenas. Ofereceu-lhes um farto almoço junto com a comunidade, em que puderam provar a bebida tradicional “Mog”. O Mog é preparado a partir da fermentação do mel e temperada com ingredientes típicos Xokleng, resultando em uma bebida fermentada, levemente adocicada e de sabor delicioso.

A receptividade dos Xokleng, e a alegria com que receberam os visitantes, contagiou quem esteve na aldeia pela primeira vez. O jogo terminou com o placar de 4 a 1 a favor dos Xokleng, que mostraram ser craques em campo. A ação foi mais um passo em direção da aproximação entre os Xokleng e não-indígenas, neste longo trabalho de reparação das injustiças que esse povo sofreu no passado, em direção a um futuro mais justo, pacífico e harmonioso.